/ A sociedade do pássaro negro [Parte 1]

 
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Talisa Underthenner brandia sua espada frente a besta com quase quatro vezes seu tamanho. A criatura parecia uma aranha gigante. Oito olhos com um brilho amarelo a observavam. Uma pessoa comum certamente ficaria paralisada de medo frente a tal criatura, mas não Talisa. Seu manto negro escondia seus cabelos vermelhos, sua armadura cobria as suaves curvas do seu corpo, mas seu olhar agudo e objetivo não escondiam sua sede de sangue.

Qualquer outro estaria arruinado frente a tamanho perigo. Este foi o destino dos demais membros de sua comitiva. A escolha de um caminho equivocado fez perecer prematuramente a caravana. Só restara a jovem ruiva, num local desolador, desafiando a morte. Mas sua morte estava longe daquele lugar. Seu tumulo não seria naquela planície pedregosa e enevoada. Seu algoz não seria uma criatura faminta lutando apenas pelo instinto de sobrevivência.

A besta atacou. Sua garra passou longe do corpo de Talisa. Esquiva perfeita. A espada sibilou cortando o ar. O chiado seco se espalhou pelo vale. A fera mutilada titubeou andando para trás. Talisa avançava. Puxou uma adaga de sua bainha. A fera entendeu que agora não era mais o caçador, era a caça, e então avançou em ataques sucessivos e desgovernados.

Para Talisa, não existia dificuldade em se desvencilhar dos ataques. Seus reflexos aguçados pela emoção do combate faziam os golpes da criatura parecerem estar em câmera lenta. A espada e a adaga passearam mais algumas vezes pelo ar. A besta teimava em manter-se de pé.

O último golpe: Talisa esquivou-se de mais um ataque, rolou até embaixo do inimigo, e gravou sua espada no ventre da criatura. O urro mais forte da noite ecoou pelo vale. A espada foi removida. Talisa recuou. Viu o monstro cambalear em cima de suas seis patas. Ele debruçou-se sobre as patas dianteiras e desabou. Os olhos amarelos aos poucos se apagaram. Era o fim. Parecia o fim.

Talisa procurou ar tentando recuperar-se do esforço. Viu a fera jogada ao chão, derrotada e finalmente cometeu seu único erro na batalha: deu as costas. Alguns passos e então uma dor aguda e lancinante se espalhou pelo seu ombro. Suas pernas fraquejaram, mas ela se esforçou para manter-se de pé. A besta erguera-se sorrateiramente a suas costas e num último esforço antes de sua morte de fato, golpeara Talisa com seu ferrão.

Nos olhos da jovem, o susto deu lugar a ira. Ela se desvencilhou do ferrão, girou seu corpo num movimento ágil e golpeou com violência a besta. Na cabeça da criatura surgiu um rasgo feito pela espada da jovem com tamanha fúria que garantiria que aquela criatura jamais se levantaria de novo. E foi o que aconteceu. Mais uma vez a besta desabou, e agora não causaria mais surpresas.

Um líquido esverdeado vertia da fera e sujava sua espada. Talisa sentiu a dor mais forte. Deu as costas mais uma vez, sem medo de ser atacada novamente. Andou alguns metros, mas não conseguiu ir longe. A vista se turvava, a dor aumentava, as pernas fraquejavam, o sangue escorria por sua a roupa, por entre sua armadura. Ela tombou de joelhos.

Algum tempo depois a dor começou a desaparecer, mas sua vista escurecia. Caiu no chão. Seu belo rosto encontrou o chão frio de pedras. Estava prestes a desmaiar, mas com sua visão nublada ainda pode enxergar adiante, pousando sobre uma saliência nas pedras, uma ave que lhe era familiar. Um pássaro grande e negro, vindo de áreas mais quentes que aquela, e que a algum tempo não via. Aquela ave tinha um nome e também um dono. Trazia sempre consigo um recado, que para Talisa na maioria das vezes era ruim. Mas era algo que não podia ignorar. A ave trazia presa em sua pata um pequeno bilhete amarrado em fita vermelha. Talisa sabia o que havia escrito com letras bem desenhadas naquele pequeno pedaço de papel amarelado. Era o nome de um lugar. Um lugar onde ela deveria estar num futuro bem próximo. Isso foi a ultima coisa que Talisa Underthenner pode ver antes do mundo ao seu redor tornasse completamente negro e silencioso.

[continua...]

Comentários (4)

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Huhu conto bastante interessante Fernando, ainda mas depois de eu ter passado a tarde jogando D&D Online, acaba se inspirando para esse tipo de leitura. No aguardo pela continuação =P
Ancioso pela segunda parte!
Ela vacilou... foi sair do combate sem usar Recuar... provocou ataque de oportunidade kkkk.
Parabéns pelo conto Fernando! Imagino ele bem ilustrado por nossa amiga Elayne!
valeu!! vem mais por ai!!
Wow, MUITO bom! Parabéns!

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